Ventania volta para os palcos
O músico e lavrador Ventania, uma das mais importantes personalidades da música popular brasileira fez seu primeiro show para uma plateia ao vivo em dois anos de pausa, devido à pandemia. Conversamos com ele sobre suas expectativas, impressões sobre a juventude atual e Gabriel O pensador.
Nessa última quarta-feira (dia 20) ventania se apresentou no clube Nárnia, em Campinas-SP.
O Nárnia SP é uma casa intimista, relativamente pequena que possuí uma forte tradição na cultura LGBT não só em Campinas, mas também em toda região metropolitana de Campinas, formada por 20 cidades no interior do estado de São Paulo.
Felipe Corcon, conhecido entre os frequentadores como Felps contou que foi uma surpresa até para eles receber um artista como Ventania em sua casa, pois tudo aconteceu por acaso e tiveram apenas uma semana para adaptar a casa para receber um show ao vivo, pois antes o Nárnia apenas recebia DJs.
“Quarta passada a gente foi num role maravilhoso chamado Nossa Casa [...} Lá a dona do espaço disse ‘o produtor do Ventania ta aqui, conversa com ele e agenda ele pra sua casa.”
E assim foi feito, Nárnia se adaptou em apenas uma semana para poder receber uma banda com duas vozes, violão, bateria e baixo.
Ao decorrer da noite, o público foi chegando e se mostrando cada vez mais diversificado, era possível ver desde jovens até pessoas adultas já de meia-idade.
O show começou tarde, mas tivemos presença de grandes clássicos como “Só para os Loucos”, “Cogumelos Azuis”, sua última música lançada nas plataformas digitais “Usuário” e também musicas inéditas, em entrevista exclusiva para a S.O.M, Ventania fala sobre essas composições;
“Eu tenho uma porrada de músicas novas, recentes do álbum que eu fiz na pandemia [...] eu fiz com parceria com meu amigo Semente e a banda Sopro.”
Durante a pandemia Ventania permaneceu em sua residência em São Thomé das Letras-MG, cidade que teve um forte bloqueio sanitário e que até o momento registrou apenas 3 óbitos 245 casos confirmados, em uma população de 7.120 habitantes, segundo seu ultimo boletim epidemiológico, divulgado no site da prefeitura da cidade no dia 21 de junho desse ano.
Sobre o período de isolamento, Ventania disse;
“Depois de uma coisas dessas você da mais carinho, mais espirito, mais amor a vida, vira o pingo do “I”[...] A gente que somos bicho solto, que somos da noite, nós sabemos das nossas partes espirituais, e tudo isso fez a gente refletir. [...]
Eu tava com muita saudade de (de tocar) é gratificante espiritualmente, consolante, confortante, não sei se existe palavra certa para descrever. Não é pelo dinheiro, é o amor.”
Durante a conversa ele falou sobre a última vez que tocou Com Gabriel O Pensador e sua opinião sobre a juventude e a cena do RAP.
“Nós tocamos juntos la em são Thomé das Letras, foi muito legal, muito massa, ele é um cara muito inteligente, puta referencia.”
Perguntei o que ele achava sobre o RAP e seu público mais novo, da faixa de seus 20 a 25 anos, Ventania respondeu;
“Eu acho que não tem idade para curtir, eu conheço a galera do Rap e do Funk no rio de janeiro, eu acho o Rap chique demais.”
Sobre seu disco novo Ventania disse que não a datas definidas para as gravações começarem
“Ainda não tem data, ter data é ficar devendo para o tempo, quando for a hora vai ser a hora.”
Wilson da Silva, mais conhecido como Ventania, além de músico se diz lavrador, cuida de sua horta em sua casa com sua esposa, tem 59 anos e é um dos muitos músicos populares inseridos em nossa música popular sem ter grandes registros sobre suas histórias, mas quando você esta em seu show ou conversando com ele, é perceptível que sua vivência e relatos são capazes de mudar pessoas e corações.
Um show do Ventania é um show do ventania, nada se compara, nenhuma expectativa que possamos ter.
Segundo as palavras de Nina, mãe do sol, tatuadora de 26 anos que foi assistir pela terceira vez um show do Ventania;
“Para quem já viveu essa vivência da rua, dos artistas de rua, do cogumelo, da maconha pra caralho, de ser esse fora da lei diante da sociedade o Ventania tem uma canetada para descrever umas bad trips e good trips que você tem, ele conversa com todo mundo que vive esse contexto de sociedade.”
Este artigo foi escrito por Bruno Fernandes dos Santos e publicado originalmente em Prensa.li.