Você confia mais na inteligência artificial ou no faro humano?
A resposta certa talvez não seja escolher entre um ou outro, mas entender como essas duas forças podem trabalhar juntas.
O Web Summit Rio deixou evidente que IA, dados e criatividade não são opostos — são complementares.
Nesta edição da Prensa Tech, reunimos os principais insights sobre como gigantes como Spotify, YouTube e iFood estão moldando o futuro do conteúdo, da publicidade e da tecnologia. Tem ainda reflexões sobre poder e responsabilidade digital, identidade nacional e inovação pública.
IA e criatividade no centro da estratégia de conteúdo
Spotify defende equilíbrio entre algoritmos e curadoria humana, e aponta crescimento de videocasts como aposta para engajamento no Brasil.
Durante o Web Summit Rio, especialistas discutiram as tendências que estão moldando o marketing digital e o consumo de conteúdo em áudio e vídeo. Entre os temas centrais, a inteligência artificial (IA) foi apontada como uma aliada estratégica, mas não como substituta do fator humano.
Para o executivo criativo Jason Carmel, usar IA para substituir profissionais da área criativa demonstra desconhecimento sobre o real papel tanto da tecnologia quanto da criatividade. Segundo ele, “tirar o toque humano é perder a essência do que torna a comunicação relevante”.
Diana Ramirez, representante da área de publicidade do Spotify, reforçou esse equilíbrio ao destacar que o algoritmo é parte do DNA da empresa, mas que ainda há uma equipe dedicada à curadoria de playlists e conteúdos. Ela apresentou o Spotify AdTech, lançado em abril, como uma plataforma programável que permite às marcas se conectarem de forma mais ágil com os usuários da versão gratuita do aplicativo. Outro destaque foi a ferramenta Ads Manager, que usa IA para criar até 400 variações de áudio, facilitando o processo criativo e ajudando marcas a encontrarem sua própria voz.
Além disso, o uso criativo dos dados também foi protagonista. Jason ressaltou que o verdadeiro poder da análise de dados está em gerar experiências personalizadas e envolventes, como faz o Spotify Wrapped — retrospectiva anual que virou fenômeno global. Diana destacou o peso do mercado regional: Brasil e México respondem por quase um quarto dos assinantes da plataforma no mundo, e os dados de comportamento dos usuários locais ajudam a criar conexões mais profundas com artistas e conteúdos brasileiros.
Por fim, o painel ressaltou o crescimento acelerado dos videocasts no Brasil, apontado como uma das tendências mais promissoras. De acordo com o Spotify, a adoção desse formato cresceu 60% no último ano, mostrando que criadores estão explorando o vídeo como ferramenta para aumentar o engajamento. Além de abrir novas frentes para os produtores de conteúdo, esse movimento cria oportunidades relevantes para as marcas inserirem suas mensagens de forma mais contextualizada no ambiente audiovisual.
O YouTube como nova TV (e escola de empreendedorismo criativo)
Fábio Porchat e Patrícia Muratori discutem liberdade criativa, formatos diversos e os bastidores do sucesso digital
Na conversa entre Fábio Porchat, fundador do Porta dos Fundos, e Patrícia Muratori, diretora do YouTube Brasil, ficou evidente o papel transformador da plataforma na carreira de criadores de conteúdo. Porchat relembrou o início do grupo humorístico em 2012 e destacou como o YouTube ofereceu liberdade criativa num momento em que a televisão não abria espaço para o tipo de humor que desejavam fazer. “A gente precisava de um lugar onde pudesse fazer do nosso jeito”, afirmou, ressaltando o impacto dos vídeos curtos e da distribuição digital na projeção nacional e internacional do grupo.
Patrícia ressaltou como o YouTube evoluiu para além de uma simples plataforma de vídeos. Hoje, é consumido majoritariamente em telas de televisão nos EUA e já pode ser considerado um novo modelo de TV — mais acessível, fragmentado e personalizado. O criador deixou de ser apenas produtor de conteúdo para se tornar um empreendedor criativo. Ela também destacou que a plataforma precisa acompanhar hábitos de consumo em constante transformação, oferecendo suporte a diferentes formatos, desde shorts até programas longos.
Ambos enfatizaram a importância de testar formatos e aceitar riscos na criação de conteúdo. Porchat citou a expansão do Porta dos Fundos para podcasts, entrevistas e programas de viagem, enquanto Patrícia projetou um futuro onde inteligência artificial e criatividade caminham juntas. A ideia central foi clara: o sucesso (no YouTube ou não) não vem de seguir tendências, mas de apostar no que se acredita — com autenticidade, adaptabilidade e um olhar atento para a audiência.
Elon Musk, poder e responsabilidade na era das big techs
Jornalistas do NYT e The Intercept Brasil analisam o impacto político do bilionário e os limites entre inovação e regulação
Durante a palestra From Twitter to the White House no Web Summit Rio, os jornalistas Ryan Mac e Kate Conger (The New York Times) e Andrew Fishman (The Intercept Brasil) analisaram a crescente influência de Elon Musk na política global. A partir do livro Character Limit: How Elon Musk Destroyed Twitter, os palestrantes mostraram como a gestão de Musk no Twitter serviu de base para sua atuação em esferas ainda mais altas de poder, incluindo interações com a Casa Branca.
Apesar de seu comportamento impulsivo, Musk é movido por projetos de grande impacto positivo, segundo os analistas. No entanto, as críticas e pressões por regulamentação vêm majoritariamente de fora dos Estados Unidos, como da União Europeia e do Brasil. Como lição, destacaram que líderes tecnológicos devem usar seu poder e recursos para o bem coletivo, enfrentando o desafio constante de equilibrar inovação com responsabilidade.
Identidade digital como vantagem competitiva
Masterclass do Serpro destaca a infraestrutura do Gov.br e seus planos de integração com o setor privado
Apresentada por representantes do Serpro, a masterclass sobre o Gov.br trouxe uma visão ampla do que já é a maior infraestrutura de identidade digital do país. Com mais de 170 milhões de contas ativas, o Gov.br foi apresentado como uma plataforma segura, acessível que, em breve, poderá ser integrada ao ecossistema privado.
A proposta é ambiciosa: reduzir fraudes, simplificar processos de autenticação e eliminar cadastros repetidos, tudo com validação oficial e em conformidade com a LGPD. A plataforma já estuda ampliar sua atuação para e-commerce, fintechs e outros setores, abrindo caminho para co-criação com empresas privadas. Para os representantes, o login único é só o começo — o objetivo é tornar a cidadania digital uma infraestrutura nacional com escala, confiança e usabilidade.
IA distribuída e cultura de dados no iFood
Empresa investe em modelos próprios de IA para prever comportamentos, personalizar a experiência do usuário e reduzir custos operacionais
O iFood tem reformulado sua operação com o uso intensivo de inteligência artificial distribuída. Em vez de uma área centralizada de IA, a empresa estruturou uma “fábrica de modelos” que atravessa todos os setores, influenciando decisões, prevendo comportamentos e otimizando processos em tempo real. Com isso, a empresa alcança resultados como a redução de custos e o aumento da eficiência. “IA substituindo o ser humano em processos decisórios ou na geração de insights, distribuído em todas as áreas constantemente”, resumiu o executivo.
Essa lógica se aplica a todo o ecossistema da companhia. Um dos exemplos mais robustos é o modelo preditivo que calcula a probabilidade de um entregador estar disponível para um pedido. A partir de variáveis como deslocamento, valor pago e horário, o sistema opera quase sem erros. A personalização da experiência do usuário também é conduzida por IA, com base em frequência, preferências e histórico de pedidos.
Internamente, a equipe do iFood utiliza um assistente de IA para investigações operacionais. Os gestores conseguem, por exemplo, identificar se houve um acidente com entregadores ao longo de determinada rota com base em simples comandos de linguagem natural. “Você entra no assistente e diz: ‘Será que algum entregador cruzou a avenida Euclides Faria e teve um acidente?’”, exemplificou. O sistema rastreia dados em segundos e entrega respostas precisas.
Os impactos financeiros também são expressivos. A IA aplicada à reaquisição de clientes já reduziu em mais de 20% esse custo. O mesmo ocorre na área de prevenção à fraude, onde a taxa de aprovação de transações subiu para 97,6% sem aumentar o risco. Para o executivo, a chave está na construção interna da tecnologia: “Modelo proprietário, dados proprietários, criaturas de casa, bunda na cadeira e muito treinamento.”
Essa edição faz parte da cobertura especial da #PrensaWebSummitRio2025 — Confira as edições anteriores com os insights do principal evento de inovação e tecnologia da América Latina😎