Você reflete o que acredita?
— Booth, eu sabia que você iria me apoiar. Eu sabia que você não iria me deixar parecer uma mentirosa.
— Como você sabia?
— Porque você quer ir para o céu.
— Mas você não acredita no céu.
— Mas você sim.
Bones, episódio 5 da 1° temporada.
Alguns dias atrás, enquanto eu conferia o meu Pinterest, me deparei com uma imagem da cena acima e o diálogo deles, embora breve, me fez pensar em como as crenças de alguém influenciam no modo em que é visto. Especialmente quando a crença é manifestada e vivida no dia a dia.
Para quem não sabe, na série, o agente federal Seeley Booth é católico e isso fica sendo lembrado ao longo das 12 temporadas, seja por um comentário sarcástico dos outros personagens ou uma visita a uma Igreja. Suas práticas nem sempre estão em conformidade com a tradição da Igreja, mas a sua fé, mesmo diante das mais diversas provações, se mantém.
Já Temperance Brennan, a Bones, uma antropologista forense, é extremamente racional, não crê no transcendente, vê um porquê e um como em tudo. Analisa o mundo a partir da razão, da ciência e da cultura. E, após a convivência de anos com Seeley, ela entende a fé dele, respeita e admira.
Os caminhos dos personagens principais se cruzam em um caso do FBI e após o sucesso da investigação criminal, eles se aliam no trabalho de investigação de crimes. Ela, com a ciência, ele, com o instinto.
Mas, voltando para o diálogo inicial, é possível perceber que há uma expectativa por parte da Temperance, como antropóloga que conhece as tradições e culturas, sobre o comportamento do Seeley a partir do conhecimento de que ele tem fé, tem religião.
Afinal de contas, diante do compromisso público em querer ir para o céu, as escolhas feitas no dia a dia serão iluminadas por esse desejo.
Esse compromisso estabelecido pode levar o nome de: propósito, motivação, norte, direção, sentido da vida.
E cada pessoa vai encontrar o seu, alguns mudam com o passar da idade, outros se mantêm firmes como uma rocha e justificam cada decisão pessoal.
A questão é que ao assumirmos uma aliança com uma religião ou um ideal, existem comportamentos básicos desses grupos e um direcionamento semelhante.
A conduta de um católico ou budista no Brasil ou na Austrália será basicamente a mesma, pois a religião se torna um fio condutor da vida dessas pessoas.
Imagine comigo esta cena: uma moça bem vestida caminha com o seu filho no colo em frente a uma farmácia, ela tem um colar dourado e um pingente de cruz. De repente, ela entra na farmácia, pega alguns cremes na prateleira, testa e esconde na bolsa saindo sem pagar.
Qual é o seu primeiro julgamento?
Você fica decepcionado e indignado com a situação, certo? Além disso, um agravante é o fato dela carregar uma cruz.
Pois quando uma pessoa assume ou carrega em si um sinal de fé, há uma expectativa sobre o comportamento dela. Como aconteceu na série.
Assim, é perceptível a importância da nossa imagem, das nossas ações e das nossas palavras para o mundo. São esses sinais que refletem quem somos, o que gostamos e no que acreditamos.
Você pode pensar que estou dando importância demais para o que os outros vêem ou como nos julgam, mas não é essa a intenção e sim abrir os nossos olhos para compreendermos que a nossa presença no mundo impacta os demais.
O que nós queremos passar? Como queremos ser lembrados? De que forma eu posso ajudar na construção da sociedade?
É assumindo o que acreditamos que podemos nos tornar únicos, mesmo que sigamos uma tradição milenar.
E quanto mais estudamos e conhecemos a nossa crença, mais poderemos vivê-la.
Tire um momento para refletir sobre isso, pode até se tornar uma prática semanal. Ter essa visão crítica de si mesmo, observar como está se portando diante da família, dos amigos e dos desconhecidos é uma boa maneira de ajustar nossos comportamentos.
E todos nós precisamos de ajustes.
Carregue dentro de si o seu ideal, o seu propósito, e viva ele diariamente, não apenas em situações oportunas.
Quem te acompanha vai perceber e respeitar isso, vai compreender que você leva a sério a sua crença e poderá se abrir para ela, assim como a Temperance na série. Ela não se intitula católica em nenhum momento, mas demonstra diversos sinais no cotidiano de que passou a acreditar no transcendente e de que há mais na vida do que a ciência.
Ah, e se aquilo que você carrega como ideologia está provocando ações diferentes do que gostaria, reveja.
Sempre há tempo para perseguir a sua melhor versão.
Obs.: Bones está disponível na Amazon Prime e é uma das minhas séries favoritas.
Este artigo foi escrito por Raquel Carolina Pedrotti e publicado originalmente em Prensa.li.