VODCAST: indo contra a corrente do fast content
Se você está dentro dessa matrix chamada Internet, deve ter percebido quão rápido os conteúdos fluem pela sua telinha. Tweets de 280 caracteres, stories de 60 segundos, TikToks de 3 minutos… Estes formatos têm uma coisa em comum: todos foram pensados e desenvolvidos para ser fast content.
Algo revolucionário que a Internet possibilitou foi a facilidade em produzir e consumir informação, seja em formato de texto, vídeo ou áudio, o que certamente mudou a forma como nos relacionamos com o conteúdo, que agora precisa atrair rapidamente a atenção do usuário do outro lado da tela.
Isso é o que chamamos de fast content: conteúdos que geram atração instantânea e não demandam atenção e concentração para entender o que está sendo comunicado. E assim tem sido a vida na Internet e principalmente nas redes sociais.
Porém, um formato em especial conseguiu se destacar no meio da avalanche de estímulos visuais e conquistou milhares de entusiastas: o vodcast.
Vod o quê?
O vodcast é a união dos termos video on demand (vídeo sob demanda) e podcast. É um formato em que a conversa e o bate-papo são o foco central do conteúdo, onde geralmente o host entrevista um convidado. Neste caso, o vodcast permite ver as pessoas presentes na conversa, diferente do podcast que é apenas um áudio.
O vodcast chegou ao Brasil em 2018 com o canal no YouTube Flow Podcast, apresentado inicialmente pelo Bruno Monteiro Aiub, mais conhecido como Monark, e pelo Igor Rodrigues Coelho, mas fez sucesso mesmo em 2020, durante a pandemia.
Nos vídeos, os hosts recebem convidados excêntricos e conversam sobre os mais variados assuntos com a premissa de ser uma conversa de boteco, sem pautas e o tom formal de uma entrevista. Esse estilo de vídeo ficou conhecido como mesacast.
O canal cresceu tanto que hoje recebe convidados como o atual presidente da república, Jair Bolsonaro, músicos, comediantes, pensadores, influencers digitais entre outras celebridades.
Mas não só isso, o Flow Podcast influenciou uma leva de novos podcasters, passou a produzir outros canais e gerou uma tendência de conteúdo que vai contra o fast content.
A pandemia e o slow content
Não a toa esse formato ganhou força durante a pandemia da COVID-19, quando a sociedade enfrentou, pela primeira vez na era digital, um isolamento social em todo o mundo. Distantes de amigos e familiares, as pessoas recorreram à Internet para manter contato e se entreter de alguma forma.
Foi quando o TikTok e as lives viralizaram, criando uma onda de dancinhas e dublagens, mas também impulsionando o slow content (conteúdo lento), como o vodcast. De um lado, mais vídeos rápidos de poucos segundos. Do outro, entrevistas que chegam a durar 24 horas de pura conversa.
Mas, acima de tudo, o vodcast proporcionou algo que as pessoas perderam na pandemia: uma simples companhia. Este conteúdo simples permitiu que o espectador se sentisse parte da conversa, algo essencial nos dias de isolamento da pandemia.
Facilitado pela tecnologia, o vodcast pode ser ouvido no seu celular e te acompanhar aonde você for. Você pode só ouvir ou também assistir, enquanto faz alguma coisa como se exercitar e arrumar a casa.
Foi um respiro para aqueles que se sentiam ansiosos com as notícias devastadoras da pandemia e sobrecarregados com a enxurrada de conteúdos das redes sociais.
Poder apenas ouvir uma conversa, ter companhia e aprender coisas novas sob a perspectiva de outra pessoa, foi o que diferenciou o vodcast e conquistou tantas pessoas.
O outro lado das celebridades
Outro fator determinante para o sucesso do vodcast foi o fato de apresentar pessoas icônicas de forma leve e descontraída. Afinal, quem não tem curiosidade sobre a vida dos famosos e políticos?
Mas o grande diferencial é que não se trata de uma entrevista qualquer, e sim um bate-papo onde o convidado pode ser ele mesmo.
Isso gerou interesse da audiência e possibilitou que as celebridades mostrassem um outro lado de si, menos engessado e mais verdadeiro, gerando maior conexão com seus fãs.
Com isso, passou a ser de interesse não só dos hosts em receber as personalidades da mídia, como das próprias celebridades que viram uma oportunidade de se posicionar da forma como bem entenderem.
Chegou pra ficar
Com o estrondoso sucesso, tudo indica que os programas em áudio vieram para ficar. De acordo com uma pesquisa realizada pela Deezer, plataforma de streaming de música francesa, os programas em áudio cresceram 67% no Brasil em 2019.
O estudo foi feito com dados de serviços de streaming como Spotify, Google Podcasts e Apple iTunes, além dos dados da própria Deezer.
A pesquisa ainda aponta que a adesão aos podcasts tem sido maior no Brasil do que em países como a França e Alemanha, que tiveram um crescimento de 50% em um ano, mas não superaram o índice registrado no Brasil.
Esse crescimento tem um impacto muito positivo no mercado. De acordo com um levantamento da PwC, os podcasts movimentaram uma receita publicitária em torno de US$ 1 bilhão em 2019 globalmente, com o valor subindo 21,3% até 2023.
Um verdadeiro incentivo para aqueles que desejam investir em podcasts ou videocasts nos próximos anos.
Conclusão
Apesar da era digital acelerada que vivemos atualmente, é possível produzir um conteúdo mais aprofundado, denso, demorado ou, simplesmente, slow. As tendências mudam o tempo todo e existem para acompanhar as demandas da sociedade.
E pudemos perceber que nem só de dancinhas, apesar de serem ótimas, vive a Internet. O vodcast é prova viva disso, movimentando o mercado e gerando empregos para tantos produtores de conteúdo, mostrando que há espaço para um conteúdo slow na era do fast content.
Este artigo foi escrito por Bruna Teixeira e publicado originalmente em Prensa.li.