Yasser Arafat, após 17 anos, sua morte continua sendo um mistério
CAUSA MORTIS DO LÍDER PALESTINO
Muito se sabe sobre a vida de Yasser Arafat. No entanto, ainda hoje, muitas perguntas permanecem quanto à causa mortis do presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Membros da sociedade civil (palestina e estrangeira) e integrantes do alto escalão da Autoridade Palestina afirmam que Arafat foi envenenado por Israel.
Em 2012, iniciada, pelo Instituto de Física Radioativa da Universidade de Lausanne, na Suíça, uma grande investigação para averiguar as acusações de morte por envenenamento dirigidas contra o regime israelense. O grupo de cientistas que exumou o corpo constatou níveis elevados de contaminação por Polônio-210. Segundo as amostras examinadas, os níveis do material radioativo encontrados na terra, nos pertences e no corpo eram 20 vezes acima do que um humano pode suportar.
Entretanto, o relatório final não concluiu definitivamente morte pelo envenenamento, vez a quantidade de material disponibilizado era inferior à considerada ideal para uma averiguação mais aprofundada. Curioso que as amostras coletadas durante a internação de Arafat foram destruídas. O Governo de Israel nega envolvimento, mesmo que tenha tentado assassiná-lo por quase 40 anos.
Para Israel e seus aliados, Arafat foi detratado como um terrorista, enquanto para os demais se tornou um lutador irredutível, o grande porta-voz do povo palestino. Mas quem é Yasser Arafat?
NASCE UM REVOLUCIONÁRIO
1929 — Nasce em Jerusalem, Yasser Arafat. Mesmo ao local de seu nascimento, o estado sionista tenta deturpar a legitimidade da nacionalidade de Arafat, criando a narrativa de que o líder palestino tenha nascido no Cairo.
Arafat se formou engenheiro civil na Universidade do Cairo, onde começou a participar dos movimentos políticos estudantis.
1956 — Arafat serve ao exército egípcio durante a Invasão de Israel, em aliança com Inglaterra e França, à região do canal de Suez.
CRIAÇÃO DO AL-FATAH: O INÍCIO DA LUTA ARMADA
1956 — Arafat parte para o Kuwait, onde se encontra com os palestinos Abu Iyad e Abu Jihad. Os jovens fundam juntos O movimento político e guerrilheiro dedicado à libertação da Palestina por meio da luta armada intitulado Al-Fatah.
A GUERRA DOS SEIS DIAS
1967 — Egito, Síria, Jordânia e Iraque entram em guerra contra Israel em reação a este por atacar o Egito. É também uma reação ao plano israelense de limpeza étnica contra os palestinos. Nesta guerra Israel anexou ao seu território a península do Sinai (Egito), Cisjordânia e Gaza (terminando por tomar toda a Palestina, incluída a parte oriental de Jerusalém) e as colinas de Golã (Síria).
JORDÂNIA: PRESIDENTE DA OLP
1967 — Após a guerra dos 6 dias, Arafat e o Al-Fatah concentram suas atividades nos campos de refugiados palestinos na Jordânia. De lá passam a resistir e atacar as forças de ocupação. No ano seguinte, Israel ataca a localidade jordaniana de Karameh, onde refugiados e guerrilha palestina estão concentrados, na tentativa de aniquilar Arafat e o Al-Fatah. Morrem 128 guerrilheiros palestinos e 30 soldados israelenses. Israel se retira do campo de batalha sem cumprir nenhum de seus objetivos. Foi o primeiro enfrentamento direto entre Israel e forças palestinas e estas saíram vitoriosas.
1969 — Arafat é escolhido o novo presidente da OLP. Na Jordânia há desentendimentos entre o rei Hussein e as forças guerrilheiras palestina. A 16 de setembro ele forma um governo militar que adianta que agirá com “punho de ferro”. Após uma semana, o saldo é terrível: 3.500 combatentes palestinos mortos e 20 mil prisioneiros. Sem falar dos feridos e mutilados. Durante meses segue a caça à resistência palestina, até que em julho de 1971, Arafat e a OLP que partem então para o Líbano.
1974 — O chefe da OLP compareceu pela primeira vez diante da Assembleia Geral das Nações Unidas para pedir à comunidade internacional o reconhecimento da luta do povo palestino pela independência.
LÍBANO: O MASSACRE DE SABRA E CHATILA
1982 — Israel ocupa a maior parte do sul libanês. Após semanas de combate, a OLP se retira para a Tunísia. Com a retirada da maioria dos combatentes palestinos do Líbano, Israel ataca brutalmente dois campos de refugiados palestinos. Estimasse que o Massacre de Sabra e Chatila tirou a vida de cerca de 3.500 palestinos, na sua maioria mulheres, idosos e crianças. Arafat fica desolado porque o massacre acontece após a OLP assinar um cessar-fogo e de garantias internacionais de que os refugiados, já se a proteção bélica da OLP, nada sofreriam.
TUNÍSIA: NOVOS HORIZONTES
1988 -— Acontece a maior reviravolta da história: a OLP proclama o “Estado da Palestina” e Arafat decide aceitar a Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, reconhecendo o direito de existência do estado de Israel, aceita a primazia da saída política, com a criação de um estado palestino nas fronteiras de 1967.
OSLO: ACORDO DE PAZ QUE NASCE COM VALIDADE VENCIDA
1993 — Mediado pelos EUA, Arafat e Yitzhak Rabin (primeiro-ministro, israelense) assinam os acordos de Paz de Oslo (Noruega).
1994 — Yasser Arafat, Yitzhak Rabin e Shimon Peres (Ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel) recebem juntos o prêmio Nobel da Paz.
1995 — Yitzhak Rabin é assassinado em uma praça pública de Tel Aviv por um extremista judeu israelense contrário ao acordo de paz assinado com os palestinos.
1996 — Arafat foi eleito presidente da Autoridade Palestina (AP), com 87% dos votos.
RAMALLAH: PRISÃO DOMICILIAR
Após o assassinato de Rabin, o acordo de Paz entre a Palestina e Israel começou a se deteriorar. Os primeiros-ministros que assumiram em Israel voltaram a tratar Arafat e o povo palestino como inimigos e uma nova onda de violência voltou à Terra Santa. O governo israelense voltou à rotina culpar Yasser Arafat pela violência. Israel decide cercar a Mukata’a, em Ramallah, proibindo Arafat de viajar, tanto na Palestina como para o exterior.
OH HONRA, PROSTATE DIANTE DE YASSER
Em 2015 o New York Times obteve uma cópia do relatório médico de Arafat, em que dizia que após o jantar de 12 de outubro, Arafat começa a apresentar diarreia, dores abdominais e vômito, chagando até a perder a consciência, sintomas que o acometeriam pelas duas semanas seguintes. O líder palestino é encaminhado para um hospital na Jordânia e de lá transferido para França, onde foi diagnosticado com uma disfunção sanguínea. No dia 8 de novembro Arafat é transferido para UTI e falece 3 dias depois.
Em julho de 2021, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos considerou "inadmissível" a queixa da viúva e da filha de Yasser Arafat. A justiça francesa não se pronunciou quanto à causa da morte do dirigente palestiniano.
Yasser Arafat, sem dúvida, é uma das figuras mais importantes e polêmicas do século XX. Independente se vilão para uns e herói para outros, Arafat é o elo da corrente entre a Palestina e o Mundo. Por uma vida inteira Yasser Arafat perseguiu o sonho de libertação nacional, talvez até tenha morrido por este sonho que hoje é compartilhado por mais de 14 milhões de palestinos, 6 milhões deles refugiados por todo mundo, em incansável e irredutível confronto de um plano colonial que já dura mais de 73 anos.
Este artigo foi escrito por Lucas Siqueira e publicado originalmente em Prensa.li.