No caso da área da saúde, temos sistemas como o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), o Sistema de Gestão da própria instituição e o Sistema de Comunicação e Arquivamento de Informações. Na falta de compartilhamento de dados, gestores e profissionais da saúde enfrentam dificuldades, sejam elas ligadas à gestão da unidade de atendimento ou à prestação de cuidados aos pacientes.
Nesse sentido, a ampla adoção da interoperabilidade tem o potencial de melhorar não apenas os resultados de saúde individuais, mas nossa resposta diante da pandemia.
O termo trata da capacidade de diferentes sistemas de informação, dispositivos e aplicativos de acessar, trocar, integrar e usar cooperativamente os dados. Tudo isso de maneira coordenada, dentro e através das fronteiras organizacionais.
Ser interoperável garante às unidades de saúde atendimentos com base em protocolos que padronizam a representação de dados. Por exemplo, se uma pessoa dá entrada em um hospital, mas este não possui um sistema com interoperabilidade, não será possível a consulta do prontuário presente em outra instituição.
É dessa forma que pacientes ficam vulneráveis à realização de exames às vezes desnecessários, ocasionando em gastos extras para o hospital, além do comprometimento da saúde do paciente.
Contar com a interoperabilidade evita situações como essa, uma vez que ela permite a comunicação e integração entre:
Sistema de gestão de consultórios, clínicas e hospitais — uma vantagem para as instituições que operam em todos os níveis de atenção ao paciente;
Prontuário eletrônico do paciente (PEP) — representa a incorporação de todos os dados do indivíduo e compartilhamento seguro com os profissionais do atendimento;
Sistema de informação de radiologia digital — emissão e envio de laudos à distância com qualidade e rapidez;
Sistema de comunicação e arquivamento de imagens — otimização do diagnóstico e antecipação das condutas clínicas.
Benefícios da interoperabilidade
1. Reduz erros e melhora a eficiência
A integração de sistemas possibilita que a clínica agilize alguns processos, eliminando boa parte da entrada manual de dados e reduzindo erros.
Dessa maneira, a interoperabilidade proporciona intervenções mais apropriadas ao caso clínico identificado, um acompanhamento laboratorial mais rápido e a possibilidade de interferir precocemente antes de complicações.
A interoperabilidade também oferece uma visão integral da saúde através do agrupamento, compartilhamento e uso de diversas informações de um mesmo paciente. Assim, a ampla perspectiva médica gera uma assistência à saúde mais segura e eficiente.
2. Melhores dados de saúde pública
Basta olhar para os problemas de troca de dados sobre a COVID-19 (que já levou a apresentação de informações distintas) para compreender a relevância da interoperabilidade. Sistemas díspares e múltiplos fluxos de dados são as raízes do problema. Dispor de uma padronização por interoperabilidade em todos os sistemas ajudaria nessa questão.
Ela ofereceria informações digitais, agilizando a coleta de dados sobre saúde, que podem ser usados no reconhecimento, interpretação, rastreamento e prevenção de doenças contagiosas.
3. Ajuda a proteger os dados do paciente
Com a interoperabilidade na área da saúde, teremos menos pessoas digitando as mesmas informações de pacientes em diferentes locais de atendimento. Em vez disso, o sistema pode acessar detalhes como histórico de consultas e doenças em um Registro Eletrônico de Saúde ou do sistema EHR (Electronic Health Records).
Outro ponto é que quanto menor o número de pessoas atualizando os dados de um paciente, menores as chances das informações caírem nas mãos erradas. O departamento de TI pode elaborar regras de acesso, o que facilita no monitoramento da conformidade da equipe, bem como fazer auditorias em caso de suspeita de violação de dados.
4. Melhor experiência para os pacientes
A diminuição da famosa papelada é um benefício para equipe médica e pacientes. A interoperabilidade torna desnecessário preencher várias vezes o mesmo formulário e reinserir as informações nos bancos de dados do hospital.
Uma linguagem comum
Pensando em interoperabilidade, uma das necessidades durante a pandemia foi a de padrões de dados para o compartilhamento de informações digitalizadas. Em particular, a pandemia evidenciou os benefícios da especificação HL7 FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resources) quando o compartilhamento de dados é essencial.
O recurso FHIR é um padrão para a troca eletrônica de dados de saúde. Ele fornece padronização sobre formatos de dados, elementos e APIs que permitem aos desenvolvedores criarem aplicativos web onde as informações são acessíveis de forma segura, independentemente dos sistemas EHR ou da rede.
Ele pode ser uma solução de longo prazo para todo o setor de saúde, onde os problemas que dificultam a interoperabilidade precisam ser resolvidos.
Ao utilizar aplicativos baseados em FHIR, equipes médicas terão capacidade para consultar um conjunto de informações, tais como histórico de medicamentos, alergias ou resultados de testes. Logo, ele ajuda profissionais da saúde, fazendo com que estes não tenham que analisar um longo resumo de documentos para obter as informações.
Apoio de todas as partes envolvidas na saúde
O serviço de saúde depende do esforço conjunto de fornecedores, pagadores, empresas farmacêuticas, governo, desenvolvedores de soluções de TI para atender os pacientes. Embora a interoperabilidade prospere por meio da TI de saúde, o suporte e a colaboração de todas as partes interessadas são necessários para fornecer produtos inovadores.
Abaixo, exemplos de como cada um dos envolvidos pode oferecer suporte:
Os prestadores de serviços de saúde devem interagir de perto com os desenvolvedores de TI na implantação de sistemas eletrônicos e sua manutenção. Compartilhar essa experiência é fundamental para comunicar os requisitos e expectativas necessários para fornecer serviços de saúde com as tecnologias mais recentes.
O setor de seguros desempenha um papel fundamental no serviço de saúde e a maioria dos pacientes depende de seu plano de seguro em caso de emergência. Com a adoção de novas regras e regulamentos, pode ser um desafio administrá-lo como um negócio, proporcionando as facilidades necessárias na cobertura de contas médicas.
As empresas farmacêuticas e outros fabricantes de equipamentos médicos contribuem para o desenvolvimento dos serviços de saúde, investindo bilhões em pesquisa e desenvolvimento. Em um ambiente com melhor interoperabilidade, seus sistemas e máquinas inteligentes funcionariam com integração total com todos os outros sistemas e redes.
Organizações e agências governamentais lidam com os processos de criação de regras para estabelecer padrões em toda a indústria e acelerar as adaptações de tecnologias seguras para serviços de saúde.
Os fornecedores e desenvolvedores de soluções de TI para saúde trabalham junto com todos os grupos mencionados acima para fornecer as soluções de produtos. Um bom canal de comunicação entre esses grupos é uma grande vantagem para os desenvolvedores porque reduz a carga de identificação de requisitos exatos, regras e regulamentos complexos.
Cenário de interoperabilidade
Um dos países que tem avançado em termos de interoperabilidade são os EUA. Em 5 de abril de 2021, entrou em vigor no país o dispositivo da nova 21st Century Cures Act (Lei de Curas do Século 21). Trata-se de uma rigorosa lei de acesso aos dados médicos do paciente, que proíbe qualquer tipo de bloqueio a esses dados.
A Lei das Curas torna obrigatório que profissionais de saúde e empresas prestadoras de serviços médicos forneçam acesso gratuito aos registros médicos eletrônicos.
Do mesmo modo, todas as organizações que possuem sistemas de EHR (Electronic Health Records), nosso conhecido Prontuário Eletrônico do Paciente, disponibilizem total interoperabilidade com diferentes plataformas digitais de saúde. E caso os provedores EHR não dêem acesso às anotações médicas digitais dentro de parâmetros federais de interoperabilidade, poderão sofrer penalidades.
No Brasil, desde 2011, a Portaria nº 2073 do Ministério da Saúde (MS) regulamenta o uso de padrões de interoperabilidade e informação em saúde para sistemas no âmbito do SUS, sistemas privados e do setor de saúde suplementar.
Nela foi estabelecido o modelo OpenEHR (Electronic Health Record) para a definição do Registro Eletrônico em Saúde (RES), e o padrão HL7 — Health Level 7 para criar a interoperabilidade entre sistemas.
Outra medida mais recente é o desenvolvimento de uma política de E-Saúde através da adoção do E-SUS como principal plataforma de Prontuário Eletrônico do Paciente.
O documento Estratégia de Saúde Digital, publicado ano passado, apresenta a perspectiva de ações voltadas para a área nos próximos oito anos. Ele busca alinhar os projetos públicos e privados, potencializando a transformação da saúde digital no Brasil.
Imagem de capa - SJ Objio - @sjobjio - via Unsplash
Este artigo foi escrito por Bianca de Oliveira e publicado originalmente em Prensa.li.